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Diretor da base do Flamengo pede desculpas por declaração sobre atletas africanos

Alfredo Almeida, em apresentação oficial, associou valências físicas a africanos e parte mental a europeus, gerando críticas e retratação posterior.

14/07/2025 23:08

Reprodução: TV Globo

O novo diretor das categorias de base do Flamengo, Alfredo Almeida, gerou repercussão ao fazer comentários sobre perfis de atletas durante sua apresentação oficial no Ninho do Urubu. Português de origem, ele assumiu o cargo no início da temporada e, em uma entrevista coletiva, destacou diferenças entre jogadores de diversas regiões do mundo. A declaração envolveu uma comparação que associou qualidades físicas a profissionais africanos, enquanto reservou aspectos mentais para outros grupos, o que foi interpretado por alguns como reforço a visões estereotipadas.

Declaração inicial e contexto no futebol brasileiro

Na ocasião, Almeida explicou sua visão sobre o desenvolvimento de talentos no Brasil, contrastando com padrões internacionais. Ele afirmou: “O que o atleta brasileiro tem, talvez não tenha em nenhuma parte do mundo. O dom, a magia, irreverência, a bola fazendo parte do corpo. Depois, existem outras zonas do globo que têm outras valências. A África tem valências físicas como quase nenhuma parte do mundo. A parte mental, temos que ir a outras zonas da Europa e do globo.” Essa parte da fala chamou atenção por potencialmente perpetuar ideias que priorizam força física para africanos e inteligência para europeus, conforme apontado por movimentos antirracistas. Ele continuou contextualizando o recrutamento europeu no Brasil, mencionando que clubes do exterior buscam a “magia” brasileira, não necessariamente atributos físicos intensos.

Almeida prosseguiu: “Há uma realidade do Brasil que pensaram que o europeu vinha ao Brasil comprar força, atletas altos, grande, fortões. Se formos a realidade do Brasil, existe regra e exceção. Exceção era o Ronaldo da vida, que tinha tudo. Mas a regra é termos os Neymares da vida, jogadores franzinos, mas que a bola faz parte do corpo, que descobrem soluções em campo como ninguém. Que conseguem passar por armadores físicos. E os brasileiros passaram a dar ênfase à forma física, a querer jogadores muito fortes, rápidos. Pulsantes.” O diretor enfatizou a necessidade de preservar características naturais dos jovens atletas brasileiros, criticando o foco excessivo em treinamento físico precoce, que, segundo ele, poderia comprometer a essência criativa do futebol local.

Pedido de desculpas e reflexos na formação de atletas

Posteriormente, Almeida emitiu um comunicado oficial de retratação, reconhecendo que suas palavras, quando isoladas, poderiam ser mal interpretadas. Ele declarou: “Durante a entrevista coletiva de minha apresentação como diretor da base do Flamengo, fiz uma explanação mais ampla sobre os diferentes perfis de atletas ao redor do mundo e as valências que costumam ser observadas por clubes no processo de formação e recrutamento. Um trecho específico da minha fala, isolado do contexto geral, acabou gerando interpretações que em nada refletem meu pensamento. Por isso, peço desculpas se a forma como me expressei causou qualquer desconforto. Não houve, em momento algum, a menor intenção de…” O texto do pedido destaca que o objetivo era discutir perfis globais sem intenções discriminatórias.

No desenvolvimento de sua explicação, o dirigente abordou mudanças no comportamento dos jovens atletas influenciadas pela era digital, como a busca por aparência muscular para redes sociais, o que, em sua visão, afeta a agilidade em campo. Ele acrescentou: “A Europa não pede isso do brasileiro, pede o que não tem lá, a magia. Muitas vezes, ao trabalhar aos 12, 13, 14 numa academia, me perdoem a expressão, para mim é até crime. Não só estamos a prejudicar o que ele tem de bom, estamos a tirar a magia. O mundo mudou mais nos últimos 10 anos do que nos últimos 50 anos. Hoje se um menino de 14 anos se tirar uma selfie na frente do espelho cheio de volume para o Instagram vai ter muitos seguidores. Esse menino, se não tivesse esse volume, teria mais agilidade, ia para cima dos adversários, com rapidez. Aquele atleta brasileiro que nos habituamos a ver. Deixou-se de fazer isso para transformar meninos, adolescentes em robôs nas academia. Isso que o Boto quis explicar. A Europa não vem procurar isso no Brasil, veio procurar talento, magia. Não pago ingresso para ver um fortão e grandão, mas para ver algo diferente. Queremos resgatar isso e podemos ser pioneiro nisso no maior clube no Brasil.”

O episódio ocorreu em 14 de julho de 2025, e Almeida, com experiência em formação de jogadores, visa implementar abordagens que priorizem o talento inato no Flamengo, o maior clube do país em termos de torcida. A retratação veio após a repercussão inicial da coletiva, e o clube não emitiu posicionamento adicional sobre o tema até o momento.

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